sexta-feira, 17 de dezembro de 2021


 
UM OLHAR MAIS LEVE

        Neste fim de ano resolvi me dar de presente um olhar menos acusatório e punitivo sobre minha própria pessoa. Para o ano que se inicia, minha ideia é recomeçar tudo de forma mais leve e condescendente comigo mesma. Vai ser assim: se deu, deu...se não deu, paciência! Cheguei ao fim deste ano avaliando que só há uma coisa que dói mais do que ser julgado pelos outros, que é ser julgado (e ainda punido) por si mesmo. É dilacerante. Abrigar no coração um carrasco aplicador de penas demanda muito gasto de energia e - cá pra nós - não ajuda em nada, é pesado e a injustiça é certa, porque não há direito de defesa e, no mais das vezes, a sentença costuma ser desfavorável. 

        Acostumada ao ofício jurídico, posso afirmar com a maior segurança que passar por cima do direito de defesa de alguém torna o processo absolutamente nulo. Lá na frente, quando detectada a irregularidade, tudo terá que retornar ao começo para conceder oportunidade ao acusado para falar. É um direito, eu diria, sagrado, sem o qual não se faz justiça. Então, se é assim, usar a chibata em si próprio e sem um mínimo de ponderação íntima deveria, igualmente, "anular o processo". Só que não. A autopunição está aí, correndo solta e prejudicando as pessoas. É, no mínimo, uma aberração reunir num só pobre indivíduo as figuras de acusado, acusador, juiz e aplicador da pena, pois não resolve coisa alguma, ao contrário, causa-se um dano ao próprio eu.

       Ora, todo mundo faz algumas besteiras nesta vida. Quem já não pôs os pés pelas mãos, magoou pessoas, exagerou sem necessidade em situações diversas, andou por caminhos indevidos, falou o que não devia? E por que tanta autorrecriminação? Faz parte da vida tentar, errar, aprender. Não bastaria o arrependimento e a mudança de rumo, aceitando o erro como aprendizado para o futuro? Ainda que toda essa dinâmica punitiva se processe no plano inconsciente, meu decreto pessoal para este fim de ano será: Chega! Daqui pra frente serei mais light comigo, assumindo os estragos e seguindo adiante. E se meu erro for daqueles no estilo da repetição mortífera, daí é que vou dar mais colo à minha pessoa e tentar descobrir a armadilha por detrás do meu comportamento, sem chicotadas! Castigos pessoais não servem pra nada. No fundo, quem se pune o tempo todo não larga mão de querer ser perfeito sempre, adequar-se às regras, cumprir padrões.

        Então, abaixo a perfeição, a grande prisão construída em nossas cabeças! Ser perfeito é ilusório e nos coloca num cárcere que não combina com a vida. Ano novo está aí para exercitarmos a imperfeição, os equívocos, os deslizes ...e tudo bem!