UM UNIVERSO EM DUAS LETRAS
Duas letrinhas vogais juntas e está formado um código simbólico para designar um universo particular acessível apenas a uma única pessoa: o Eu. Como um buraco negro descrito pela astronomia, somos uma espécie de lugar único para onde tudo pode fluir e convergir, inclusive a luz. Universo, ou 'uno' mais 'versus', que, em latim significa 'tornado um'.
Cada Eu é um universo restrito onde o tempo não impera. Contém passado, presente e futuro, bem como desejos, medos, planos, sentimentos, potencialidades, ilusões, emoções, raivas, agressividades. Nele tudo existe, desde o que já fizemos em nossas vidas (e o que não fizemos) até tudo o que fizeram (e o que não fizeram) conosco também. Nele tudo é real e fictício ao mesmo tempo. Nele é registrado o que de concreto vivemos e também o que encenamos como uma realidade acessível apenas a nós mesmos.
Nosso Eu é tal qual mônada, aquela que o filósofo alemão Leibniz mencionou como substância simples, porém, sujeita a transformações, evoluções e desenvolvimento. Por isso a vastidão do nosso ser é inalcançável e tudo cabe em nós. Somos tudo o que somos e também o que não somos e até o que imaginamos que somos. Somos o que sabemos e até o que não sabemos. Somos tudo então, somos multi. Multifacetados, multitarefas, multiplicados, multiversos.
Somos a simplicidade e a complexidade juntas, somos todos os opostos unidos em um, o bem e o mal, a alegria e a tristeza, a cara e a coroa, o dito e o não-dito, o erro e o acerto, o solo fértil e o arenoso, a glória e a derrota, a criação e a destruição, o nobre e o vil. Estava certo o poeta austríaco Rilke ao afirmar "Se meus demônios me abandonarem, temo que meus anjos desapareçam também".
Temos o todo em nós e somos o todo também. O Eu só é pequeno no plano da letra simbólica, porque grande em essência. No Eu reside a possibilidade de conhecer tudo o que existe e também o que ainda nem foi inventado. Guardamos em nós um cosmo infinito, somos bem maiores do que podemos imaginar.


