O OCULTO NA LINGUAGEM
As palavras guardam significados ocultos que, na rotina do dia a dia, nem percebemos. É muita coisa saltando de nossas bocas sem detectarmos que podemos estar dizendo mais do que, simplesmente, pensamos dizer.
Contudo, nenhum mistério existe nisso e um mergulho raso nessas águas da linguagem pode mostrar que basta prestar atenção nas palavras que usamos para extrair delas mais do que elas parecem referir. Numa dessas será possível até refinar nosso olhar para as coisas, as pessoas e o mundo, simplesmente, observando melhor o que falamos.
Não se costuma perceber, por exemplo, que respirar contém um pirar. É porque respirar é estar vivo, é movimentar-se e, inexoravelmente, é enlouquecer, seja no sentido bom ou ruim. Quem aqui veio respirar se colocará, de modo obrigatório, em alguma condição de pirar, em marcha para alguma loucura existente no mundo. Pira é coisa de gente viva, de gente que respira. O movimento automático da respiração é o pré-requisito básico para enlouquecer e que seja, de preferência, por causa da loucura boa.
Já pressentir traz consigo o sentir, o sentir antes, que é, de algum modo, aceitar que a intuição tome o comando, é largar o leme da razão, tão importante quanto duvidosa para certos momentos e situações. Pressentir é deixar-se guiar por uma força invisível do coração, é saber que não enxergamos tudo e que nossos cálculos internos, tão frequentemente concretos, não se aplicam em alguns terrenos. O amor é testemunha para confirmar como podem ser inoperantes as nossas forças racionais.
Conseguir contém um ir, um ir em busca de algo, um seguir com, com vontade e persistência e, portanto, um não desistir. Contempla um seguir o que se deseja, o que se almeja ou aquela voz interna que comanda a direção para um objetivo determinado. É parecido com o dormir, que também esconde um ir, porém, um ir para o mundo dos sonhos, para o lugar dos delírios seguros e das fantasias inofensivas. É ir da noite para o dia ou do dia para a noite ou desta para a madrugada, transitar pelo tempo sem sair do lugar.
O cuidar alberga em si um dar, revela o ato de ceder de si para o bem de um outro. Tem embutida a ideia de se desprender de algo que nos é próprio e inerente em benefício de alguém. Não há como cuidar sem dar. Cuidar é dar tempo e energia em prol de quem precisa, é dar afeto e amor, desapegar-se. É o verbo primo da compaixão e do desprendimento.
São variados os sentidos ocultos nas palavras e o falar é um ato veloz demais para que se possa desvendar tão rapidamente o que nelas se esconde. Pode ser que escrever, por trazer em si um ver, seja uma estratégia para descobrir novos formas de comunicação e por isso tudo parece ficar mais claro. Aliás, descobrir contém o seu oposto que é o cobrir, indicador de que interpretações se justapõem no que dizemos, as quais permitem novas percepções sobre tudo.
