QUANTO CUSTA ESTAR NA MODA
No reino das coisas supérfluas o que de mais opressor existe, no meu ponto de vista, é aquela febre de se encaixar em padrões visuais. O casacão do inverno anterior ainda está novo no armário, mas não servirá para o deste ano, pois a moda agora é o seu comprimento pela canela e daí corre todo mundo gastar dinheiro para não ficar de fora. São comandos externos com o poder de ditar formas de ser e estar no mundo. As novas coqueluches definem quem tem sucesso, é moderno e descolado por aderir às calças pantalonas, estampas de zebra, estética punk, esmaltes terracota e outras tiranias do mundo fashion.
Temos medo de não seguir o que as passarelas mostram como adequado e daí para o contexto maior da vida a coisa não muda muito. Somos a espécie que se sente obrigada a seguir o que é o tido como certo. Deus o livre sermos autênticos, ficarmos de fora sem poder andar por aí de cabeça erguida, batendo no peito para o que escolhemos para a nossa vida. A sensação de que não somos dignos do aplauso da sociedade nos invade e sofremos com a ideia de não mais pertencer à comunidade que, real ou ilusoriamente, nos controla.
De todo modo, se há algo que se pode dizer ultrapassado é essa tendência que temos de nos encaixar em padrões. Adaptar-se a isto acaba se tornando caro demais e não estou falando de dinheiro. Seguir padrões, fazer o que todo mundo faz, repetir cegamente condutas custa uma vida com plenitude. Mas o ser humano, mesmo assim, adora curvar-se a leis ocultas, não há dúvida. Seu gosto por seguir ordens internalizadas no seu âmago é inequívoco, ainda que isto o reduza e o impeça de viver de acordo com a sua vontade genuína. Suspeito que a razão disso seja porque, ao nascermos neste mundo, logo nos apresentam a relação das boas maneiras que devemos adotar para a vida toda, que é a moral e os bons costumes.
Quem ousa transgredir esta moda do bom comportamento acaba sendo julgado e punido ou, no mínimo, mal falado. No meio social, ter o seu estilo próprio parece não combinar com as ordens outrora impostas pelos, digamos, estilistas da sociedade e o infeliz que recusa o uso de roupagens (ideias) que não lhe servem, apenas para caber na expectativa geral, terá o triste destino de não ter vivido sua própria vida. Ao contrário, se souber assumir seus gostos mais verdadeiros, apresentará um look mais de acordo com o seu querer.
Porque quando é a lei social que se sobrepõe ao anseio de cada um, a combinação dá numa verdade sufocada, para dizer o mínimo, pois há casos mais severos de ditadura cega que resultam em uma consciência opaca e sem brilho, quando não em doenças físicas, tristeza e uma vida sem alegria. Isto sim é que é mau gosto. Se seguirmos à risca a moda comportamental da sociedade, ao final teremos passado por esta vida sem nos vestir com nossas próprias montagens.
Cumprir o padrão ditado de forma externa é over e nos torna mera reprodução adequada e bonita segundo a avaliação dos outros. Permanecer no que é tendência geral atende às expectativas do mundo, mas é a receita certeira para a terrível experiência de não viver de forma genuína e comprometida com as próprias escolhas.
Como é opressor ter de se encaixar no que está em voga por mera obrigação ou medo de chocar. Andar na estica da sociedade não vale amarrotar os sentimentos mais verdadeiros que se possa ter. O risco de ser apontado ou cancelado deve ser encarado como menos importante do que a aposta num coração mais em paz com os próprios desejos.
