UM LEÃO NO VATICANO
Ontem os católicos do mundo acompanharam a fumaça branca anunciando a escolha do novo Papa. Leão XIV é como será chamado, por escolha própria. Ouvi diversas notícias a respeito de uma suposta tendência de sua parte na continuidade do pensamento do seu antecessor de mesmo nome, o então Papa Leão XIII, editor da encíclica Rerum Novarum. Uma espécie de carta de intenções fortemente assentada em valores éticos e morais em nome da justiça social, da melhor distribuição da riqueza entre os povos e das práticas de caridade aos mais pobres. Algo como um sermão de domingo fortemente impregnado de influência política.
Simpatizei com ele de primeira. Um sorriso sereno que me pareceu sincero, assim como uma disposição para fazer muito pelos fiéis. Pelo seu semblante, senti uma espécie de espírito missionário e evangelizador. Não sei o quanto saber da sua trajetória de vida no Peru contribuiu para eu ter esta impressão. De todo modo, é fato que ter vivido por anos na América colonial o colocou muito próximo dos problemas do mundo. Quero acreditar que ele é daqueles que persistem na crença da conversão das almas.
Sua posse no Vaticano veio a calhar para mim, pois o momento que vivo vem me desafiando para reformas pessoais de peso. Eu poderia dizer que estou em obras, precisando de um reboco novo na minha fé, uma demão no teto das minhas esperanças. Está sendo bom fazer uma conexão entre esta minha necessidade e a chegada do novo líder.
Este momento de renovação no terreno da religiosidade é bem vindo a mim e quem sabe o novo pontífice possa despertar para um outro jeito de ver e sentir o mundo e as pessoas. Nem santo, nem político, mas alguém com um poder estratégico nas mãos.
Senti, de verdade, uma espécie de convite para ver Deus mais de perto a partir desta transição, especialmente, porque não imagino que a força que permeia os propósitos da Igreja não esteja sendo direcionada para nós, seres humanos tão carentes de amparo e afeto, ansiosos por alívio. Também não me ocorre que os céus não estejam nos supervisionando e emitindo forças espirituais neste momento e, talvez dizendo, "vai dar tudo certo".
Porque somos todos, de fato, órfãos de alguma coisa e precisamos com frequência que alguém nos direcione uma bênção especial contra as nossas carências mundanas ou as vãs certezas que cultivamos. Tomara mesmo que o novo Leão esteja com seus pulmões plenos de ar para rugir sobre as nossas cabeças a compaixão de que tanto sentimos falta. Que ele consiga transformar corações congelados em almas fazedoras de bondade.
Seja muito bem vindo, Leão XIV, faça por nós aquilo que não conseguimos sozinhos enquanto seres frágeis num mundo de desilusões dolorosas. Desejo-lhe, sinceramente, que o seu nome aglutine as forças da mudança para um mundo melhor para todos, assim como um mundo interno melhor para cada um de nós.
