TEMPO PRESENTE
Se tem duas coisas que brigam (ou brigavam) dentro de mim, dois titãs que não se conciliam, são meu passado e meu futuro. Querem me dominar. Velhas histórias ruins, feridas, memórias dolorosas, banzos e ressentimentos vindos do meu ontem costumam rondar a minha cabeça. Todo esse acervo íntimo, cuja importância devia se limitar à construção da pessoa que eu me tornei, costuma me visitar com uma frequência indesejada, eu diria, me atrapalhando e não obedecendo às minhas ordens pra voltar ao arquivo de onde saiu. Como é atrevido esse meu pretérito não tão perfeito! Parece ter vida própria. Vem quando quer, faz estrago e promete que sempre vai voltar. Ou sou eu mesma quem esquece de impedir a sua passagem lá das catacumbas da minha mente.
Do outro lado, e com a mesma fúria, aparece o meu amanhã, isto é, fantasias tão reais quanto incertas, mas com um poder danado de assombrar meus pensamentos. Parecem querer antecipar um script já definido, ainda que absolutamente irreal, me ameaçando sempre com a imposição de um cenário de vida perturbador. Pulula, em minha cabeça barulhenta, essa briga de espadas. Meu presente, atônico frente a tais invasões, e meio sem ação, acaba ficando de testemunha desse embate nada profícuo.
Mas isso vem mudando! Esses dois braçudos estão perdendo força para a capacidade que descobri que tenho de fazer do presente o comandante do meu hoje. Se pensamentos vindos de lá detrás quiserem me importunar, ou vindos de lá adiante só pra me assustar...então, fora daqui os dois, passado e futuro! Aliás, vocês nem existem! Vocês não passam de uns fantasminhas sem poder! Parem de querer que eu os veja como concretos e fortes o bastante para me desequilibrar! Comportem-se! Voltem aos seus devidos lugares, vocês não têm mais permissão pra aterrorizar minha paz. Só venham quando convocados, ok? E neste caso, coloquem nas suas bagagens somente coisas boas: lembranças felizes que me façam sorrir e planos construídos em parceria com o bem estar. Do contrário, ausentem-se, porque não serão bem vindos.
Quanto ao meu presente, esse sim é que merece cuidado e atenção. É ele quem atesta minha condição de pessoa viva e me permite extrair do mundo tudo que é bom, a exemplo de me colocar em retiro geral para um profundo estado de recolhimento e introspecção num lugar qualquer do mundo. Sim, neste momento estou fora do campo de visão de todos. Me ausento momentaneamente de tudo, do trabalho, das obrigações, da casa, da rotina, da família. Minha vida de todo dia está em stand by. Estamos aqui, só eu e o meu agora, em meio a outras paisagens e barulhos, dialogando sem pressa ou interrupções. O passado já passou, o futuro nem chegou...o meu tempo está aí... só meu presente é bem vindo.

Continue nesse processo de aperfeiçoamento da alma. A consciência do momento presente é o que verdadeiramente importa!
ResponderExcluirLinda crônica!