A GEOMETRIA DO VIVER
Se a geometria é a linguagem da natureza, poderia então dizer que nossas vidas parecem guardar um paralelismo com algumas figuras geométricas. Pensando a respeito, pude constatar que, por certos ângulos de análise, algumas metáforas permitem comprovar minha afirmação.
Por exemplo, não é de hoje que a expressão 'andar em círculos' remete a situações monótonas, enfadonhas e sofridas, que acabam por manter as coisas sempre do mesmo jeito, como se dali algo novo pudesse aparecer contrariando a lógica que diz dos mesmos resultados para as mesmas ações. Repetimos pensamentos, comportamentos e crenças, ainda que doídos e doidos. Mesmo sofrendo, continuamos a dar voltas em torno do mesmo lugar esperando novidades que jamais virão. Dar voltas ao redor de um mesmo núcleo anestesia o poder de mudança que temos, prende-nos a uma força centrípeta que parece nos sugar para o mesmo lugar sempre. Deveríamos saber que a repetição não é renovadora de nada, não refresca, não inova. A repetição é apenas mais do mesmo. Órbitas constantes são chatas. Precisamos sair de circuitos tipo carrossel, pois nada ali existirá como novidade, será tudo sempre igual como um plano sem curvas.
Aliás, o plano é outra figura da geometria que me serve muito bem de metáfora para dizer que superfície lisa não existe. Isto porque junto com o ponto e a reta, o plano sequer tem definição na geometria. Claro que pesquisei isso na internet, pois foi no século passado que tive essa aula no colégio. De qualquer forma, tudo a ver com as irregularidades que lembram nossas vidas. Nessa brincadeira de comparar a geometria com a vida, o plano só serve para indicar que não há vida estável, mas incerta, impermanente, movimentada, cheia de altos e baixos. Que bom, pois é isso, justamente, o que nos força a sair do conhecido quadrado.
Por falar em quadrado, símbolo maior da rigidez, é sempre oportuno escapar deste espaço apertado. A vida exige malemolência e jogo de cintura com o mundo e as pessoas. Ser quadrado é antiquado, fora de moda, sem ideias novas, preso ao passado. Bom é fazer tentativas, abrir a caixa, sair do comum, arriscar-se, tal qual malabarista no trapézio.
Ah, o trapézio! Este é o nome de um quase quadrado, isto é, uma forma nem tão certinha nem tão irregular, formada por dois lados paralelos e duas diagonais tortas. Para mim é a representação perfeita de que bom senso e risco podem coexistir, pois muitas vezes a vida obriga mesmo à exposição ao perigo, tal qual um trapezista que, com um tanto de ousadia e outro de segurança, mergulha no infinito, experimenta o desconhecido e joga-se.
Agora, boa mesmo é a pirâmide, a forma para a ideia de evolução, talvez por causa da base sólida que propicia equilíbrio para que se possa chegar às alturas. A pirâmide parece guardar na sua extremidade o prêmio para quem foi obstinado e perseverante na subida, como metáfora para dizer que a chegada ao topo é possível, atingindo o ponto alto desejado para estar mais perto da luz.
