QUANDO EU CRESCER
Quando eu crescer quero conseguir parecer um pouco, ao menos, como minha filha mais velha. Ela mal sabe que há tempos eu a tenho como inspiração para inúmeras situações e dúvidas que me surgem. Ela sequer imagina que diante de alguns impasses eu fico pensando como será que ela agiria se estivesse em meu lugar. Eu a tenho como um modelo de conduta, de leveza perante os obstáculos. Que bom exemplo eu trouxe a este mundo!
Queria muito ter, igual a ela, calma e tranquilidade para escutar o silêncio tão escondido entre os ruídos do mundo, e a capacidade de se desconectar do que lhe incomoda. Nunca precisa fazer alardes para ser notada, porque sua permanente luz preenche qualquer espaço. Pensa e age com uma sensatez que assusta a qualquer um. É delicada no seu jeito de ser, de falar, de lutar pelo que quer e acredita. É forte e suave ao mesmo tempo. Sabe se posicionar em defesa do seu ponto de vista, assim como não entra em conflitos que não lhe trarão qualquer benefício e apenas lhe roubarão energia e tempo. Com quem será que ela aprendeu isso?
Quando eu crescer quero ser como ela, dona de um bom humor invejável, que sabe ser engraçada lançando pérolas inteligentes e arrancando gargalhadas com as comédias que espontaneamente constrói. Ao contrário de mim, não vai de zero a cem em segundos. Tem uma maturidade que encanta, ao lado de um grande talento para o gozo de sua juventude. Na idade dela eu era apenas alguém que havia recém deixado a infância. Ela não, já tem opinião sobre coisas que eu sequer havia pensado nessa fase da minha vida. Gostaria de ter a mesma perspicácia dela, que coexiste com um olhar bondoso para vida e as pessoas.
Quando eu crescer quero ser como minha filha, que tem inúmeros amigos e faz listas intermináveis de convidados para suas festas de aniversário. Nunca vi tanta unanimidade em volta de uma só pessoa! Ela é alguém que agrada com seus atos e palavras, alguém que oferece prazer pela sua mera companhia.
Quando eu crescer quero ser como Carolina, que, facilmente, abre mão de coisas sem importância e direciona seu vigor para o que realmente lhe interessa. Fiquei admirada com sua obstinação e estratégia para conseguir do pai a autorização para o intercâmbio fora do país com apenas 16 anos. Na ocasião, quando tentei alertá-la sobre algo que pudesse dar errado longe de casa, ela me responde com uma pergunta: e se der tudo certo, mãe? Calei-me. Aprendi ali com ela a olhar o lado bom das coisas. Ela estava certa, voltou do intercâmbio para casa recheada de experiências e histórias, abastecida de autoconfiança. E eu... há tempos venho ensaiando uma viagem solo, sendo que minha desculpa é sempre a mesma: falta de tempo. No fundo não tenho coragem.
Quando eu crescer quero ser como minha filha, que sabe se equilibrar entre a seriedade e a fanfarrice, transitando por esses extremos sem se perder. Quero, do mesmo jeito que ela, saber que força e leveza convivem. Quero entender esse seu poder de se recuperar rápido frente aos incômodos, e tornar mais leve a vida de todos à sua volta.
Quando eu crescer, definitivamente, quero ser como ela e até que isso aconteça quero estar a seu lado sempre e em todos os momentos, para dizer-lhe o quanto a admiro e o quanto desejo que me ajude a ser mais parecida com ela.

