quinta-feira, 9 de junho de 2022

 

LIVRO MÁGICO

    
        

            Fiquei muito impressionada na infância no dia em que alguém me contou sobre o poder mágico do livro O pequeno príncipe, escrito pelo francês Antoine de Saint-Exupéry. Disseram-se, com os olhos de quem revela um segredo, que esse era um livro de magias, mudando seus feitiços conforme crescíamos. Assim, a sua leitura feita quando criança produzia um determinado efeito, diferente de quando fosse lido na juventude e também depois, quando já na idade adulta. A mágica do livro, então, estava na sua capacidade de despertar interpretações diferentes em momentos distintos da vida do leitor.          

            Ora, seria mágico mesmo, não fosse pelo fato de que é o próprio leitor quem se modifica com o passar do tempo e vai percebendo tudo de maneiras diferentes. Evidentemente, quando crianças, temos um pequeno baú de experiências, um repertório limitado de conhecimentos, assim como um olhar límpido, puro e inocente ainda não preparado para os desencantos do mundo. Portanto, a mágica nunca esteve no livro, mas no leitor, de forma que me atrevo a dizer que até um gibi da Turma da Mônica produz tal efeito fantástico.

          Acredito que o livro 'O Pequeno Príncipe' tenha sido mesmo escrito com a intenção de abordar justamente a perda da inocência ao longo dos anos, pois é fato que as pessoas vão crescendo e a magia das coisas vai se desfazendo, o encanto natural vai cedendo lugar a um olhar menos iludido. Por exemplo, aquela máxima de que "o essencial é invisível aos olhos, e só se pode ver com o coração" será entendida com maior profundidade após alguns bons tropeços e quedas que a vida nos impõe sem cerimônias. É a partir daí que nos tornamos mais hábeis a perceber o real valor das coisas simples.

        O livro também parece querer antecipar ao pequeno leitor a lição de que nem sempre o que vemos à primeira vista é a realidade, como a figura da serpente que, tendo engolido um elefante, toma a forma de um chapéu. Para os pequenos, um verdadeiro espanto, mas nada de novo para alguém calejado, que já consegue desconfiar do que lhe aparece à primeira vista, capaz de sorrir compreensivamente com a mensagem.

        E o que dizer de "tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas"? Um verdadeiro e complexo enigma para a infância, cujo sentido só se compreende depois de se ter adquirido um coração recheado de encontros e despedidas.

        Assim, talvez seja justo pensar que a mágica não está nos livros, mas no olhar mutante daqueles que o leem, que se refina, se altera, se enriquece e se lapida com o acúmulo das experiências vividas. De qualquer modo, os livros são meros veículos dessa magia, testemunhas vivas da nossa transformação, de como a importância das coisas e das pessoas flutua ao sabor do tempo. Podemos afirmar então que qualquer livro é capaz de cumprir a missão de gerar efeitos mágicos para todos os que estiverem abertos à sua mensagem.

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