LIVRO MÁGICO
Fiquei muito
impressionada na infância no dia em que alguém me contou sobre o poder mágico
do livro O pequeno príncipe, escrito pelo francês Antoine de
Saint-Exupéry. Disseram-se, com os olhos de quem revela um segredo, que esse era
um livro de magias, mudando seus feitiços conforme crescíamos. Assim, a
sua leitura feita quando criança produzia um determinado efeito, diferente de
quando fosse lido na juventude e também depois, quando já na idade adulta. A
mágica do livro, então, estava na sua capacidade de despertar interpretações
diferentes em momentos distintos da vida do leitor.
Ora, seria mágico
mesmo, não fosse pelo fato de que é o próprio leitor quem se modifica com o
passar do tempo e vai percebendo tudo de maneiras diferentes. Evidentemente,
quando crianças, temos um pequeno baú de experiências, um repertório limitado
de conhecimentos, assim como um olhar límpido, puro e inocente ainda não
preparado para os desencantos do mundo. Portanto, a mágica nunca esteve no
livro, mas no leitor, de forma que me atrevo a dizer que até um gibi da Turma
da Mônica produz tal efeito fantástico.
Acredito que o
livro 'O Pequeno Príncipe' tenha sido mesmo escrito com a intenção de
abordar justamente a perda da inocência ao longo dos anos, pois é fato que as
pessoas vão crescendo e a magia das coisas vai se desfazendo, o encanto natural
vai cedendo lugar a um olhar menos iludido. Por exemplo, aquela máxima de
que "o essencial é invisível aos olhos, e só se pode ver com o
coração" será entendida com maior profundidade após alguns bons tropeços e
quedas que a vida nos impõe sem cerimônias. É a partir daí que nos tornamos
mais hábeis a perceber o real valor das coisas simples.
O livro também parece querer antecipar
ao pequeno leitor a lição de que nem sempre o que vemos à primeira vista é a
realidade, como a figura da serpente que, tendo engolido um elefante, toma a
forma de um chapéu. Para os pequenos, um verdadeiro espanto, mas nada de novo
para alguém calejado, que já consegue desconfiar do que lhe aparece à primeira
vista, capaz de sorrir compreensivamente com a mensagem.
E o que dizer de "tu te tornas
eternamente responsável por aquilo que cativas"? Um verdadeiro e complexo
enigma para a infância, cujo sentido só se compreende depois de se ter
adquirido um coração recheado de encontros e despedidas.
Assim, talvez seja justo pensar que a mágica não está nos livros, mas no olhar mutante daqueles que o leem, que se refina, se altera, se enriquece e se lapida com o acúmulo das experiências vividas. De qualquer modo, os livros são meros veículos dessa magia, testemunhas vivas da nossa transformação, de como a importância das coisas e das pessoas flutua ao sabor do tempo. Podemos afirmar então que qualquer livro é capaz de cumprir a missão de gerar efeitos mágicos para todos os que estiverem abertos à sua mensagem.

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