ENTRE PRATOS E PRANTOS
Meu professor de pós-graduação em psicanálise, citando um autor lido por ele, encaixou no meio da aula uma aliteração interessante: Vivemos entre pratos e prantos! Aliteração é o recurso linguístico de juntar palavras acusticamente similares, porém, absolutamente diferentes em seus significados.
Os termos 'pratos' e 'prantos' não compartilham qualquer etimologia, mas juntos, formaram uma metáfora, que, por sua vez, é outro recurso linguístico em que palavras são usadas no lugar de outras para a obtenção de sentidos diferentes dos que lhes são usuais. Guardam uma associação apenas simbólica.
Gosto bastante da linguagem metafórica para dar vazão a pensamentos e sentimentos. É como uma fala cifrada que, paradoxalmente, expressa melhor a ideia central que se pretende transmitir. Acho até que, em alguns casos, a literalidade das palavras atrapalha e é bem menos exitosa na transmissão fiel da mensagem.
Mas, voltando, o que pratos tem a ver com prantos? Nada. Por isto é que foi genial quem, usando um jogo de palavras, conseguiu resumir ao máximo o que é o viver nosso de cada dia.
Começou com alguém que, a título de espetáculo circense, equilibrou diversos pratos ao mesmo tempo para mostrar seu talento em não os deixar caírem, coisa que o senso comum acabou por incorporar como forma de dizer que a vida é um constante exercício para impedir a queda e a quebra dos nossos "pratos". Indica a árdua tarefa de darmos conta das obrigações que temos e dos papéis que desempenhamos. Já o pranto é choro, lágrima, lamento.
Vivemos entre pratos e prantos! É o mesmo que dizer que vivemos em constante combate contra as perdas porque tememos ter que lamentar quando elas são inevitáveis. No cenário do teatro existencial ninguém escapa de perder e chorar. Ninguém sai desta vida sem louças quebradas e lágrimas derramadas. A vida é luta e luto.
A frase é uma forma poética e até divertida de descrever a essência da condição humana. Refere-se à tragicomédia da nossa experiência neste mundo, à dualidade da vida, à coexistência de batalha e dor, ao drama do cotidiano regado de emoções.
Eis que a vida é essa coisa que nos faz artistas de circo, malabaristas na corda bamba dos dias, enfrentando o risco das quedas.

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