O CORAÇÃO E OS CACHORROS
Por ocasião de uma cirurgia cardíaca na minha família (bem sucedida, viva!), em meio àquela atmosfera de tanta preocupação e burocracias hospitalares, aproveitei um momento na conversa com o médico para indagar-lhe, afinal, qual vinha a ser o maior segredo para manter o coração sempre em bom funcionamento e evitar transtornos nessa área. O doutor, que já devia ter ouvido a tal pergunta mais de um milhão de vezes, deu-me imediata resposta, mais graciosa do que técnica: "– Evitar doce e não sentir raiva". Xiii, e agora? Não há quem nunca tenha sucumbido a delícias açucaradas ou se corroído vez ou outra com o dito sentimento maléfico. Que recomendação difícil de cumprir...
Fiquei pensando que em muitos momentos só um brigadeiro cumpre a função de neutralizar a ira, que chega com força nas ocasiões em que o controle interno falha. Arrisco dizer que doce e raiva vivem juntos, são complementares, como os lados da mesma moeda, inseparáveis. Jamais vi alguém que só consiga se acalmar com um empadão de ricota. Mas se assim for, então paciência! O negócio é reforçar a reza pra que nada aconteça. Ficar sem doce ou se contentar com tudo à sua volta, no fundo, parece coisa pra cachorro. Só eles comem a mesma ração todos os dias e se sacodem de alegria o tempo todo. Podem viver bastante, quando bem cuidados, mas jamais saberão que gosto tem um bombom, nem mudarão o rumo de suas vidas após situações adversas ou acusações injustas.
De todo modo, meu nobre e querido músculo que me desculpe pelos deslizes que até hoje cometi. Prometo daqui pra frente não lhe obrigar a novos apuros. Vou sim me comportar à mesa e sentir a vida com mais amor.
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