terça-feira, 11 de outubro de 2016

SÁBIAS PALAVRAS

     Meu avô paterno era um cara muito bem humorado que conseguia fazer piadas escancaradas com ar de filósofo sério. Falava coisas do tipo "relógio que atrasa não adianta", ou então "não bebo mais... e nem menos", agarrando-se logo a um trago que lhe oferecessem. Na sua lápide - dissera - haveria de constar a frase "aqui jazem meus ossos, queria que fossem vossos". Mas a melhor mesmo era dita em tom de verdade jamais percebida: "é bem melhor ser rico e com saúde do que pobre e doente". Sabia deixar o interlocutor em dúvida quanto à seriedade do diálogo. Era um sábio palhaço, ou ao contrário. Morreu moço, cinquenta e poucos anos, de modo que não cheguei a conhecê-lo, mesmo assim me divirto com suas histórias, todas contadas pelo meu pai, aliás, um senhor herdeiro dessa veia cômica. Pela leveza diante da vida, consigo admirá-lo, lamentando não ter um único dia sentado em seu colo. Queira Deus eu possa também ser capaz de, ao menos, extrair sorrisos de descendentes contadores de minhas vivências, numa dessas fazendo-os gargalhar por algum deslize engraçado.
    Mas ser lembrado por uma qualidade é só o reflexo de possuí-la, pois quem de fato leva a melhor é a própria pessoa que a tem dentro de si. Vale o oposto também. Desse modo, quem é bondoso e pacífico traz a bondade e a paz no coração, assim como o raivoso e o cruel são os que primeiro experimentam raiva e crueldade, e assim por diante.  Divagações à parte, essas aí estão mais pra galhofa, tamanha obviedade em dizê-las.
   Pois é possível que a graça oculta nas falas soberbas sirvam justamente pra mostrar o óbvio que não se costuma enxergar, de vez que a gargalhada deva ter, junto com a infelicidade, o seu efeito pedagógico.  Então, se dá pra aprender com o riso, aqui vai um conselho poderoso ao estilo do velho Alfredo: é melhor rir do que chorar.

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