OS FILHOS E O PRINCÍPIO DA IGUALDADE

Quem tem mais de um filho sabe exatamente a dificuldade de aplicar o princípio da igualdade no âmbito familiar. Longe de privilegiar um deles, pai e mãe parecem querer se equilibrar na corda bamba do amor e da educação. Tendo aprendido que todos são iguais perante a lei sem distinção de qualquer
natureza - conforme diz a nossa Constituição Federal - eu, que sou mãe,
costumava seguir à risca essa recomendação em casa, distribuindo à prole tudo
na mesma medida. Então, se o pé de uma filha crescia mais rápido e precisava de
sapato novo, ia logo providenciando um novo par à outra filha, ainda que já
tivesse uma penca de modelos ou passado pelo estirão do crescimento. Mudei de
opinião. Se remédio só se dá a quem está doente, por que distribuí-lo a todos?
A coisa de dar tudo igual aos filhos não funciona, seja materialmente ou não,
porque as demandas são diferentes. Quando uma estiver triste, de agora em
diante terá mais do meu tempo e atenção. A que tirar dez na prova terá meu aplauso
e a que não se esforçar, uma conversinha em separado.
Evidente que há coisas que devem ser igualmente oferecidas e até na mesma hora, mas não é disso que estou falando e sim daquela necessidade desenfreada de espelhar tudo. Passei a acreditar que o equilíbrio desmedido atrapalha, torna os gestos familiares automáticos, exclui o merecimento e ainda por cima sai pela culatra, porque não surte o efeito esperado. A equalização pura e simples só prejudica, não destaca ninguém. Quem faz aniversário é que merece ganhar presente. E dar a um não é tirar do outro. Se até a aplicação legal do princípio da igualdade na lei fundamental do país só se perfaz quando consideradas as desigualdades envolvidas, por que seria diferente dentro dos lares?
Talvez o ponto chave seja dar as mesmas chances, direitos e tratamento nas ocasiões oportunas, de acordo com a necessidade, pra que todos se sintam igualmente especiais. Então, de acordo com minha atual cartilha de mãe lá em casa, no que depender de mim, saibam que não vai faltar nada a ninguém.
Brilhante e há de saber que são indivíduos com vontades próprias. Não é fácil. Mas pelo visto tiras de letra. Parabéns pelo belo texto.
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