Mês passado consegui me dar de presente uma pequena aventurinha solo. Viajei. Fui pra praia. Nada demais, apenas uma experiência simbólica para que eu pudesse dizer que estava sozinha em alguma coordenada geográfica do mundo. Aqui pertinho. Pouca bagagem e só um dinheirinho para alguns deleites. Meu plano era não conversar com absolutamente ninguém, exceto o básico para sobreviver. Era tudo o que eu vinha querendo há tempos, estar só em qualquer lugar para desfrutar da minha própria companhia por uma semaninha. O que de abundante eu levei foi a expectativa sobre como eu me sentiria.
Minha felicidade era tanta que, ao chegar no hotel, falei em voz alta dentro do aposento no décimo quarto andar de frente para o mar...Enfim, só! A hospedagem em grande estilo foi o único luxo do qual não prescindi.
Tudo transcorreu bem naquele período. Passei dias maravilhosos. Me virei direitinho cumprindo meus planejamentos prévios. Almocei e jantei em silêncio, fui a lugares bacanas, tirei selfies. Também fiz bolha nos pés de tanto que andei de um lado pra outro. Que delícia foi depender só de mim. Descia para o café da manhã quando bem me aprouvesse. Negociava comigo mesma aonde ir e a que horas voltar. Tomava banho de madrugada com luz acesa e música alta. Até acordei várias noites às quatro, cinco da matina pra ficar um tempo na sacada olhando o oceano e escutando o barulho das ondas por um bom tempo. Foram inúmeras coisas que fiz sem a menor obrigação de avisar alguém ou explicar o motivo. A tal solitude é mesmo abençoada quando nos damos esse direito por opção.
A ideia que eu tinha era me isolar de tudo e de todos, pra fazer uma espécie de balanço, o que até consegui. Mas... Rá!!! Quem disse que isso aconteceu durante todo o tempo? Num dos dias do meu retiro me vi andando descalça de manhã cedo na praia, focalizando na mente cada pessoa importante pra mim nessa vida. Para cada uma delas eu fazia uma descrição de como eu a sentia e o que eu planejava daqui para frente em sua companhia. Também firmei com cada qual o compromisso de tornar nosso relacionamento sempre melhor. Não escapou ninguém do meu monólogo interno. Foi como se eu tivesse convocado a presença de todos ali comigo. Aquela silenciosa dinâmica de grupo foi a prova de que ficar absolutamente só parece ser algo da ordem da ilusão.
Num outro dia da viagem me peguei fazendo vídeo chamada pra casa, pra ver como tudo andava sem a minha presença, e em outro dia olhei vitrines escolhendo lembrancinhas pra levar, e em outro dia tirei fotos e compartilhei o que de bonito eu estava enxergando. Ficar sozinha é bom, mas gostoso mesmo é viver em matilha, em manada. Foi engraçado estar só e me perceber amarrada aos meus amores. A gente se afasta de todos mas leva cada um dentro do peito.

Nenhum comentário:
Postar um comentário