domingo, 1 de janeiro de 2023

O BOM GOSTO NA ROUPA DA PRIMEIRA DAMA

   

        Para a posse do seu marido presidente da república do Brasil, neste dia 1o de janeiro de 2023, a primeira dama apareceu com um tailleur bege claro com vários bordados em forma de flores e arabescos enfeitando as lapelas na parte da frente, assim como na parte de trás e nas mangas.

        Lá em casa, na sala, com a família reunida para assistir à cerimônia pela TV, a mulherada foi dando suas opiniões, fazendo uma rápida avaliação sobre o estilo da vestimenta escolhida para aquele evento de importância nacional. Umas aprovaram e fizeram elogios. Outras acharam tudo aquilo demasiado, comprometendo a sobriedade do traje. Particularmente, eu ainda estava em dúvida quanto a ter gostado ou não.

        Até certo momento ninguém havia pensado mais detidamente na intenção daqueles bordados que, num primeiro momento, pareciam destinar-se apenas a enfeitar a roupa. Mas uma rápida pesquisa que fiz pela internet logo mostrou tratar-se de um artesanato solidário desenvolvido numa tal região do Seridó, no Rio Grande do Norte, relacionado à época da colonização portuguesa em nosso país. Descobri que as bordadeiras daquele local integram uma cooperativa denominada Timbaúba dos Batistas e desempenham esse ofício que há anos é passado de mãe para filha como fonte de sustento e autonomia financeira.

        Imediatamente, brotou em minha mente que de uma região árida do nordeste brasileiro podem nascer delicadas flores, ainda que sejam elas bordadas em tecidos, como que destoando de uma realidade onde a pobreza e o sofrimento são o dia a dia de uma gente sofrida e batalhadora. Muito encanto nisso! Mas havia algo a mais mostrado na roupa da primeira dama, que era o fato de aqueles bordados não se prestarem a seguir regras estilísticas ou impressionar, mas sim fazer reverência ao patrimônio cultural brasileiro e incentivar o talento de mulheres da nossa terra.

       Foi aí que a roupa da primeira dama me capturou. Detectei o seu bom gosto transcendente a quaisquer tendências em voga, pelo exercício amoroso da identidade nacional, divulgação da arte brasileira, incentivo ao trabalho local, valorização do que é nosso. Isso é, sem dúvida, de um extremo bom gosto que extrapola qualquer coisa já vista em desfiles nas passarelas de moda. A esposa do presidente não deu importância apenas ao cetim, ao corte especial e à boa combinação, e sim aproveitou o evento para enaltecer a originalidade do seu país. 

        Não consigo pensar em outra atitude mais apropriada para o evento de posse do seu marido presidente da república, senão aquela da Janja, prestigiando o produto nacional, na minha opinião, uma espécie de aplauso silencioso à obra de suas trabalhadoras conterrâneas, além de um chamado ao engajamento social e uso da roupa como instrumento para o despertar de causas coletivas.


Fonte da imagem: https://images.app.goo.gl/fPgUf3FJE5tZP83v5

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