VIRANDO A CHAVE
Merece premiação quem inventou a famosa expressão virando a chave. Sem dúvida, é uma metáfora que condensa um significado tão amplo quanto profundo. Literalmente, a virada de chave é o que nos permite sair de um lugar e entrar em outro, da mesma forma que representa trancar portas que já não servem mais. Também indica a possibilidade de nos colocar em movimento a partir da inércia, como no caso da condução de um veículo qualquer, por exemplo. A virada de chave envolve um ato de vontade, de mudança no status quo, de consciência desperta.
A alegoria tem muito a dizer sobre nós, uma vez que precisamos muito virar chaves como ato de reforma no campo de nossos comportamentos, pensamentos, sentimentos. É necessário virar chaves quando algo não vai bem ou mesmo quando até vai bem, mas pode ir melhor. Virar a chave é retificar-se, adequar-se ao diferente, adaptar-se, enxergar-se, responsabilizar-se.
Especialmente no dia de hoje, viro algumas chaves na cabeça, porque venho batalhando para isso, por acreditar que as mudanças, externas ou internas, dependem de certo grau de esforço pessoal. Esperar que as coisas caiam do céu como chuva refrescante de verão me parece bastante ilusório, e é por isso que trabalho, e trabalho muito para conseguir detectar quando é necessário virar chaves.
O nome disso é retificação subjetiva e consiste em uma mudança de posição, mas não uma mera mudança aleatória envolvendo tentativa e erro só para ver no que dá, como uma brincadeira qualquer. Trata-se de algo que passa a ser sentido nas células do nosso corpo, tal qual uma claridade que se abre, amplia o entendimento de si próprio e deságua em reformas pessoais, decisões, novos caminhos e compreensão da própria responsabilidade naquilo do que nos queixamos. Quem se retifica subjetivamente dá adeus ao ó vida, ó céus, coitada de mim, arregaça a manga e segue em frente com outro olhar.
Qualquer dia é propício para um remanejo pessoal no cenário geral da vida que levamos, porém, fazer isso no dia em que sopramos velhinhas parece ter um significado diferente, pois soa como convocação íntima para dar atenção ao que não vem funcionando bem e também continuar investindo naquilo que está dando certo.
Viro novas chaves hoje, aproveitando que é meu aniversário, e também porque já venho treinando cada vez mais esse negócio que a maturidade traz, que é ter nas mãos um grande molho de chaves para o autogerenciamento. Virar a chave tem muito a ver com assumir os próprios desejos, ter autonomia, construir a própria narrativa, andar pelas próprias pernas.



