SOBE E DESCE
Por um bom tempo eu me ressenti com as minhas gangorras emocionais. Era bem difícil, talvez trágico para mim, estar muito bem e feliz em um dia e encolher-me de tristeza no outro por causa de um desconhecido sentimento de falta de algo inominável. As palavras, de maneira pobre e limitada, indicavam tratar-se de um sobe e desce, de um vai e vem, como se eu tivesse um motor dentro de mim girando e me deixando tonta.
Em vários momentos, para minimizar esse desconforto, romantizei-o, pintei-o com cores poéticas descrevendo-me como a pessoa intensa que, genuinamente, ou como diva estereotipada de cinema, conseguia ir do céu ao inferno em segundos e transitar pelos extremos da paleta dos sentimentos. Isso me fazia sofrer..
Minha perspectiva hoje já é outra, graças à luta que eu me propus a travar para desbravar o desconhecido que habita em mim. Por causa disso, o que um dia fez eu me sentir acorrentada no script da insana bipolar hoje serve para me libertar, pelo só fato de que reconheci minha natureza dual, porque sou ao mesmo tempo a calmaria da maré baixa e o maremoto que tudo arrasa. Acolhi essa oscilação de humores como própria de minha pessoa, conseguindo localizar meu equilíbrio dentro dessa dança maluca.
Assim, se num dia vivenciei o cume erótico de um encontro com alguém, tudo bem que no outro dia eu só queria ficar quieta no meu canto. Se em outro dia eu queria gritar aos quatro ventos 'eu te amo' tudo bem também se no dia seguinte eu só queria me mandar sozinha para um local distante. Já não me cabe mais a pergunta 'por que isso acontece comigo?' Aceitei meus opostos, transo com eles, sou eles.
Foi uma aceitação que mandou para longe a necessidade de autenticar minhas decisões com base em opiniões alheias. Nem o espelho me barra mais para sair de casa, pois se não estou lá em dia com minha aparência, segundo meu próprio julgamento, que se dane, pois minha paz interior vale mais do que um eventual elogio externo.
Meus modelos vem ruindo dia a dia, como construções em areia de praia destruídas pela onda que as alcança. Entrei, definitivamente, por uma trilha de descobertas, por um mundo em que as satisfações constantes não passam de mera ilusão. Não há mais volta nesse caminho.
O mundo é isso mesmo, o ser é isso mesmo, funcionam em sistema de opostos, binários, antagonismos. O segredo é equilibrar-se, adaptar-se, entregar-se. A gente constrói padrões na mente e tenta segui-los, por isso é que ficamos endurecidos. A velha mania de querer que tudo seja sempre do jeito que planejamos. Pura imaginação. Deixei estar, deixei ser. Estou feliz assim.

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