JUSTIÇA SEJA FEITA
Advogada há quase trinta anos, meu universo diário envolve uma montanha de processos, por meio dos quais são levados ao Judiciário conflitos, debates, razões, contrarrazões etc., além de audiências todos os dias. Já me acostumei com a seriedade da coisa e com as caras sisudas dos que participam deste ato, como juízes, advogados, partes e testemunhas.
Eu mesma fico séria e faço meu trabalho sem pretensão alguma de agradar a ninguém, exceto àquele cujos interesses estão em minhas mãos, obviamente. O ambiente jurídico é sério porque precisa haver concentração pra não se perder de vista os trilhos da lei e seus inúmeros parágrafos, incisos, alíneas etc., que são a baliza da atuação de todos, tal como um mecanismo de proteção invisível contra excessos e abusos.
Mas, dias atrás, numa audiência, inicio minha participação no ato encaixada no usual estilo cara séria. Esperava também aquele olhar carrancudo do juiz, junto com olheiras e mal humor. Que nada! Era simpático e estava feliz da vida com sua cuia de chimarrão fumegando, recostado em sua poltrona e com espírito leve e cheio dos chistes, o que não lhe impediu de conduzir de forma impecável o ato. Puxa, que beleza! Pensei. Uma abertura muito bem vinda nesse meio tão cinzento.
Só que o máximo daquele juiz ainda viria e, melhor, dirigido à minha pessoa. Fez-me uma "acusação" que, no mínimo, me agradou. De forma respeitosa disse: - A senhora é recém formada ou está enganando bem? Tem cara de menina, completou. Nossa! Um pouco atrevido, eu achei, mas no fundo eu gostei.
- Ahhh...ganhei a causa, digo, o dia!!! Respondi. Afinal, quem, na minha condição, não gostaria de ser confundido com alguém na casa dos vinte e poucos anos?
A conclusão óbvia parece ser a de que o único veredito cabível nesse caso é o de que ninguém está protegido contra um elogio.

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