O VIÉS DE CADA UM
Tratou-se de uma conversa descontraída entre quatro amigos ao redor de uma mesa com aperitivos, bebidas e risadas. Eram todas pessoas que eu conhecia em graus diferentes de proximidade. Num dado instante, uma delas, sem intenção de iniciar um debate profundo, recosta-se na cadeira enquanto faz giros com seu copo de whisky e gelo e, simplesmente, lança a afirmação de que pretende viver até os 107 anos de idade. De imediato, tomando de empréstimo aquele número, o outro da mesa diz, enquanto se delicia com um potinho de amendoim, que, em sua opinião, melhor mesmo é ter 107 amigos.
A terceira pessoa, então instigada pela brincadeira iniciada, colocando-se em postura mais ereta, talvez demonstrando que o assunto, ainda que leve, chamava para uma espécie de reflexão, dita que o melhor de tudo é ter 107 milhões na conta do banco. Finalmente, o último do grupinho, que até então só ouvia os demais enquanto estralava os dedos, fecha o ciclo dizendo que, sem dúvida, o paraíso seria ter 107 amantes.
Sejam anos de vida, amigos, dinheiro ou amantes, é nítido que cada qual daquelas pessoas vem passando por um momento importante relacionado ao que acabavam de dizer. A primeira pessoa a falar, aquela que deseja viver até os 107 anos de idade, está de bem com a sua vida, com seu lado pessoal e profissional em pleno desenvolvimento e, certamente, quer prolongar a fase em que se encontra, pois, viver bastante com boas condições só poderia representar seu maior desejo no presente. A segunda pessoa, a que almeja ter 107 amigos, é, justamente, a que vem se sentindo um pouco só, devido ao recente divórcio e ao intercâmbio de seus filhos no exterior. Neste caso, ter muitos amigos representa a sua maior necessidade.
A essa altura, já é possível intuir que a terceira pessoa, a que deseja ter 107 milhões em conta, é aquela que vem há tempos matando um leão por dia para sanar suas dívidas e guardar uma soma de dinheiro para o futuro. Por certo não aguenta mais olhar os preços dos produtos no supermercado antes de colocá-lo no carrinho de compras. A quarta e última pessoa, e daí eu nem preciso esclarecer, é aquela que, por dedução óbvia, vem praguejando a instituição do casamento e desejando, ardentemente, a liberdade.
Como se pode ver, não é por acaso que alguém deseja alguma coisa, pois, no mínimo, sua configuração atual de vida, assim como suas dificuldades recentes vêm servindo como referência para saber o que lhe move e qual vem a ser o seu desejo mais urgente.
Em vista daquela conversa, muito similar à uma dinâmica de grupo, fiquei pensando o que eu elegeria como mais importante na minha hora de dizer 107 alguma coisa e, não tenho a menor dúvida, de que seriam lugares do mundo para visitar. Isso mesmo, meu desejo é visitar 107 lugares espetaculares neste planeta, dada minha fome constante de sair da mesmice, de me movimentar, de me desafiar.
E você, pessoalmente falando, saberia identificar quais são as melhores 107 coisas para a sua vida?

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