AMOR E DISPONIBILIDADE
Recentemente, assisti a uma live na internet cujo tema era o amor. De duas uma: ou eu estava sem nada para fazer a ponto de poder ficar absorta por uma hora e meia com os olhos e, principalmente, os ouvidos grudados na tela, ou o assunto é de tal importância que mereceu uma pausa no cumprimento das minhas obrigações. Fico com a segunda alternativa, pois penso que nada em nossa existência é mais importante, desafiador e vital do que o amor. Ninguém vive sem amor, ninguém sobrevive sem amor, melhor dizendo.
Para começar, falou-se do amor romântico explicado por meio de um retorno ao Banquete de Platão, mostrando que desde tempos remotos de nossa história, este sentimento sempre esteve em pauta na vida dos seres humanos, que até hoje buscam sua outra metade, após terem sido cortados ao meio pelo poderoso Zeus mitológico, com a ajuda de Apolo.
É daí que teria vindo a ideia do(a) parceiro(a) como a cara metade ou a metade da laranja que todo mundo fala e canta por acreditar que, ao encontrá-lo(a), experimentará a completude. Então o amor seria a tentativa de reunificação, de resgate do paraíso perdido, o que é um tanto impossível e utópico, diga-se de passagem, de sorte que alguém que diga tê-lo encontrado está mergulhado na ilusão.
Como eu já havia ouvido esta explicação mítica, prestei mais atenção noutro ponto da conversa, mais prático e menos filosófico e que falava sobre o amor próprio que cada um precisa conservar como luz permanentemente acesa dentro de si. A questão do amor próprio estava sendo abordada a partir de um viés diferenciado e sobre o qual eu jamais havia pensado, por envolver a ideia de disponibilidade.
Disponibilidade, segundo a live, é um indicador para avaliar o quanto de mim, do meu tempo, das minhas energias e até das minhas vontades estão aí para o uso amoroso. É uma medida para avaliar o quanto alguém está aberto para dar de si e, ao mesmo tempo, dar a si próprio, conservando-se, cuidando-se. Disponibilidade é, portanto, estar em stand by para o atendimento das necessidades do outro, como também envolve uma gestão cuidadosa dos próprios recursos emocionais.
Logo, trata-se de uma palavra que possui dois lados, a face e a contraface, como dupla potência, porque porta o sentido de que o amor é ficar em posição de espera em benefício de alguma demanda do outro, mas também é adotar uma dinâmica de economia em favor de si mesmo, dando-se amor próprio, que também é expressão de amor.
Se escolho estar disponível a alguém, concordo em doar-me e é por isso que posso dizer que amo. Se escolho não estar disponível para certas empreitadas com o outro, também amo, a mim, em tal caso, e toda esta reflexão sobre a dualidade do amor e da disponibilidade está a dizer sobre a necessidade do equilíbrio entre a dedicação aos outros e o autocuidado.
Colocar-se à disposição de alguém é uma declaração de amor que transcende o superficial de uma relação. Nesse sentido, amar envolve uma escolha ativa e não uma submissão às necessidades alheias. De outro lado, não estar disponível às necessidades alheias é também uma forma de amor, dirigido a si próprio, pré-requisito da saúde mental e bem-estar. E tudo isso, funcionando ao mesmo tempo, é o melhor da experiência humana relacionada ao amor.

Nenhum comentário:
Postar um comentário