sábado, 8 de fevereiro de 2025

 TUDO A SEU TEMPO

                A natureza tem seus prazos. Não cabe apressá-la. A fruta só despenca da árvore quando madura, o pintinho só arrebenta a casca do ovo quando apto a vir ao mundo, os répteis só trocam de pele na hora certa, sem ninguém os forçar. Todas as espécies de crias mamíferas, nós incluídos, também seguem um cronograma específico para nascer, enfrentar a erupção dos primeiros dentes, aprender a comer sozinho, andar sem apoio. Nada disso acontece antes do previsto.

                Mas o ser humano é um rebelde que não aguenta esperar, quer sempre apertar o passo, adiantar o relógio das coisas. Não aceita que o tempo absoluto reina por trás de tudo sem se curvar aos seus desejos. Não percebe que atropelar as etapas naturais dos acontecimentos, em obediência às suas ansiedades, resulta em frutos prematuros, incompletos, frágeis e de pouca duração, quando não amargos. O tempo é como uma fera, indomável. Chacoalhe uma ampulheta e verá que a areia não passará mais rápido para baixo. As urgências são inimigas que nos roubam vida, contribuem apenas para a perda do essencial e para a construção de bases frágeis.

                Fico imaginando que se nos fosse possível acelerar o giro da Terra, certamente, seríamos privados de espetáculos, como as cores do por do sol no crepúsculo, assim como as auroras frescas trazidas com as primeiras luzes da manhã. Não respiraríamos o ar filtrado após o término das tempestades, caso conseguíssemos tornar mais ligeiro o seu ciclo natural. Nem teríamos brisas mornas, só ventos destruidores. O sono durante as madrugadas seria menos reparador e o despertador gritaria quando a preguiça ainda comandasse nosso corpo. 

                A afobação para que o tempo transcorra de uma vez virou sintoma para a humanidade, que se viu obrigada a, cada vez mais, desenvolver técnicas para o controle das suas impaciências. Mas o tempo ignora tudo, é senhor e maestro das orquestras da vida, não está nem aí para a rapidez que nele se tenta implantar.

                O tempo existe, independente do quanto queiramos que ele passe mais rápido, sua velocidade é única, inalterável. E assim como indispensável para a vida, o tempo também é necessário na morte, pois veja que o luto não é outra coisa senão o próprio tempo ajeitando calmamente a dor no armário das nossas memórias. Tudo o que vem e tudo o que parte precisa do tempo como colaborador.

                Os laços afetivos, os amores e os relacionamentos só se constroem na convivência lenta entre as pessoas. As decisões são tomadas na calmaria dos corações. Os aprendizados demandam a continuidade na sua prática. Os ferimentos precisam do tempo para a recuperação do corpo. A produção dos alimentos na agricultura, o crescimento da massa do pão, a fermentação do vinho e do queijo contam com o tempo para a sua qualidade. As flores só desabrocham na hora certa. O tempo está em tudo, queiramos ou não.

                Portanto, a pressa não serve absolutamente para nada, exceto para uma taquicardia inútil. Quem sabe usar o tempo a seu favor vive melhor, não deixa escorregar por entre os dedos a beleza das coisas. Fazer as pazes com o tempo é incorporar mais vida dentro de si. 

                Fantasiar que se pode acelerar o tempo para que algo do futuro chegue de uma vez é o mesmo que não viver o momento presente, assim como permanecer com a cabeça virada para as alegrias de outrora é viver no passado. Nem uma coisa nem outra. Viver o hoje, isto sim é estar em paz com o tempo.

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