sábado, 20 de agosto de 2016

SILÊNCIO É OURO

      As Olimpíadas de 2016 no Rio de Janeiro me deixaram bastante empolgada com a possibilidade de sinalizarmos para o mundo que damos conta de organizar um evento grandioso, que somos uma nação solidária, capacitada e que tem orgulho de ser brasileira. Enfim, que podemos impressionar os visitantes com as nossas potencialidades. No entanto, algumas sutilezas podem revelar que não estamos com essa bola toda, como o caso do mau uso da palavra para infelizes comparações.
      Olha só: uma de nossas atletas, já tendo sofrido preconceito racial nos jogos olímpicos anteriores, conquistou medalha de ouro em sua modalidade esportiva. Sem dúvida, uma vitória com sabor todo especial, espécie de revanche frente à pesada equiparação que então sofrera quatro anos antes. Mostrou superação, dando o recado que é digna de orgulho do seu país. Triste foi que a menina, diante do seu feito, se viu forçada a responder à seguinte pergunta na TV: - O que você sentiu naquela hora em que olhava para a adversária com cara de... tigre? Ora, se era para compará-la a alguma coisa, que tivessem usado termos como gladiadora, guerreira ou qualquer outro que não lembrasse um animal selvagem, quadrúpede e indomável, que usa o instinto ao invés da razão, que não emprega senão as forças físicas e sucumbe frente à inteligência, ou seja, sem nenhuma semelhança conosco. Será que não foi arriscado o parâmetro usado na entrevista?  Ah, nada a ver, não foi preconceito, diriam uns! Pois é lógico que não houve má intenção, foi só um descuido com a linguagem, um improviso desajeitado.
   No entanto, uma vez que o vocabulário tem o poder de expressar pensamento, sentimento, cultura, quando mal empregado pode ferir, de modo que em terrenos delicados, melhor premiar o silêncio com a medalha de ouro.

Nenhum comentário:

Postar um comentário