A POTÊNCIA DA FEMINILIDADE
Eu já maior, vacinada e mãe quando em dado momento da minha maturidade tive de me submeter a um procedimento cirúrgico para a retirada do útero e ovários. Ali tive de me despedir de uma parte visceral de mim. Biologicamente falando, tornei-me inapta para a tarefa de gerar filhos. Socialmente falando, tornei-me desprovida do selo e do destino da maternidade.
Aproveitei a situação para repensar sobre todo o imaginário em torno da relação entre a gestação e o feminino.
De início, nada abalou
a certeza sobre a minha condição de mulher. Talvez porque já a algum
tempo penso que o poder feminino é bem mais vasto do que estar na posse dos
equipamentos fisiológicos para o desenvolvimento de uma gravidez. A passagem do
tempo vem me mostrando que nós, mulheres, somos aptas à geração de outros tipos
de "filhos", como projetos, sonhos, transformações. É próprio da alma
feminina a potência criativa.
Quero dizer que o nosso poder é muito
maior do que apenas ser capaz de povoar o mundo, ainda que esta seja uma dádiva
que nos aproxima do divino. Devemos saber que, além da fecundidade que nos é
dada pela natureza, também podemos dar conta de outros papéis e funções, pois
somos também profissionais, empreendedoras, talentosas, influenciadoras,
empoderadas.
Ser mulher é, antes de mais nada,
uma coisa do campo da alma e não apenas do corpo biológico, porque diz respeito
a uma energia, uma potência que nos torna maiores do que as expectativas
sociais que recaem sobre os nossos ombros quanto ao aspecto da procriação. Ser mulher compreende
um diálogo constante entre o corpo e alma, entre o ser e o mundo. É uma energia
que nos eleva acima das expectativas sociais sobre procriação e nos permite dar
luz a novas ideias, novos mundos, novas possibilidades.
Ao meu aparelho reprodutor, que
foi muito competente em me proporcionar duplamente a maravilhosa experiência da
maternidade, expresso a minha mais profunda gratidão. É certo, no entanto, que chega
um momento em que precisamos desenvolver maior clareza quanto ao que podemos criar
sob várias outras formas mediante os nossos esforços e habilidades físicas, bem
como usando a forte da conexão que existe entre o universo e nossa essência
feminina.
Naquele dia em que me submeti à
cirurgia para a extração de meus órgãos reprodutores femininos internos,
intensificou-se essa travessia em direção à ressignificação do meu ser mulher.
Penso ser um dever darmos à luz ideias
e revoluções às futuras gerações de homens e mulheres, promovendo o crescimento
em todos do brilho de novas criações e irradiando sobre as demais pessoas o que
temos de melhor.
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