quarta-feira, 27 de dezembro de 2023

PEDINDO FAVOR A QUEM NÃO TEM TEMPO

            Todo mundo já experimentou épocas em que a rotina é preenchida por uma maior quantidade de tarefas e compromissos. São aqueles períodos em que seria luxo dispensar uma mãozinha emergencial para alívio da agenda e, consequentemente, economia da energia física. Mal nenhum há em pedir ajuda a alguma alma generosa para estas ocasiões em que os afazeres não cabem nas limitadas horas que temos no dia ou na semana.

            Mas a dica não é solicitar auxílio apenas a quem conserva a bondade no coração e se dispõe a abdicar do seu próprio tempo para, empaticamente, servir ao outro. O jogo mesmo é pedir um obséquio a quem está atolado de coisas a fazer e essa eu aprendi com meu sogro, que há muitos anos me disse: - quando você precisar de um favor, peça-o para uma pessoa bem ocupada e ela dará conta.

            Assim que ouvi tal orientação um tanto paradoxal, escapou-me o entendimento de sua lógica, afinal, não é matemático que quem tem menos coisas a fazer é, justamente, quem mais pode ajudar? Não. Aliás, é um ledo engano achar que quem está de papo para o ar é, justamente, quem oferecerá ajutório. 

            A explicação é que quem tem mais tempo livre é quem terá maior dificuldade de executar favores aos outros, porque está imerso em um vazio temporal desorganizado e capaz de bolar mil desculpas para se esquivar de obrigações para si ou para qualquer pessoa. Já quem quem tem zilhões de compromissos sempre conserva o talento para arrumar estratégias voltadas a dar conta do que lhe foi pedido, pois consegue visualizar melhor seus afazeres, estabelecer metas para o seu cumprimento e dinamizar seu tempo, adotando ainda aquela máxima da 'promessa é dívida'.

            Os fins de ano estão aí para comprovar o acerto dessa coerência reversa. Além das exigências pessoais, do trabalho e da casa, há toda a sorte de coisas que parecem brotar do até então tranquilo poço das incumbências. É a hora em que o espírito entra em ebulição como resposta nervosa para o receio de não conseguir cumprir tudo o que aparece.

            A pet fica doentinha bem nessa ocasião e dá-lhe três idas ao veterinário em menos de uma semana. Os armários da despensa na cozinha se esvaziam misteriosamente, faltando diversos produtos, o que para mim significa um evidente conluio deles com o supermercado nada vazio. Começa também a caça ao eletricista - para a entrega do abajur decorativo exigido pelo layout da sala -, e à lavanderia - para cobrar sua promessa de entregar as cortinas que desde julho não viam água.

            Chego a elucubrar sobre como ganhariam um bom dinheiro as companhias seguradoras caso tivessem como produto um seguro contra o não cumprimento de encargos por falta de tempo! Eu seria uma cliente a ser recusada, certamente. 

            Baseado naquela recomendação do meu sogro, neste fim de ano desejei encontrar alguém bem atarefado que pudesse servir para confirmar esta teoria e me ajudar de alguma forma. Mas, na verdade, a constatação do acerto de tal conjectura veio por outro lado, porque era eu a pessoa ocupada que conseguiu fazer todo o planejado e ainda ajudou a quem havia me pedido uma força para alívio de sua agenda.

            

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