BIRUTA
Para quem desconhece esse instrumento, a biruta serve para medir o sentido do vento e é muito usada em aeroportos para orientar os pilotos de aeronaves. Trata-se de um tubo cilíndrico feito de tecido, com suas extremidades abertas, sendo maior de um lado do que do outro. O vento entra pela extremidade maior e sai pela menor e com isso mostra se está soprando daqui para lá ou de lá pra cá.
É lógico que meu lado Platão, que não me deixa um só instante, aparece para filosofar a qualquer hora, de modo que acabo usando até esta engenhoca da inteligência humana como gatilho para divagar e pensar o quanto um ser humano sem senso crítico pode ser infeliz. Se pararmos para pensar, somos todos como birutas, não como doidos ou loucos varridos, ainda que eu acredite que também somos isso em algum grau de vez em quando.
Somos parecidos com as birutas porque, biologicamente falando, a natureza nos construiu como um tubo com dois buracos por onde entram e saem alimentos. Não há como fugir disso. Contudo, no sentido psicológico é que a comparação fica mais interessante, pois também podemos ser como birutas se deixarmos que tudo apenas passe por nossas cabeças, sem o exercício da reflexão e do senso crítico, capacidades das quais somos equipados evolutivamente.
Quem apenas recebe do mundo em que vive estímulos e informações, sem exercitar o pensamento, sem refletir, sem questionar o status quo, acaba se tornando como uma biruta, em que tudo apenas sai do mesmo jeito que entrou, ou seja, passa sem que se use a caixa de ressonância que temos acima do nosso pescoço para pensar.
A analogia entre a biruta e a pessoa que não reflete criticamente sobre sua vida, seu mundo, suas relações, sua história, enfim, sobre o que lhe circunda, parece-me perfeita para dizer o quanto é oco e perdido o indivíduo que não usa sua capacidade de exame e avaliação das coisas para uma existência com mais sentido.
O uso da reflexão e do senso crítico são imprescindíveis para a felicidade de cada ser, pois permite atribuir significados diferentes para situações difíceis que costumam despertar reações automáticas a todos, assim como conferir outras narrativas pessoais a fatos do passado que atormentam o presente.
Pensar criticamente sobre a vida, o mundo, os acontecimentos, não significa se enclausurar nas balizas da razão e dela não se desapegar, assim como reverenciar o sol que ilumina não é esquecer que ele também queima e seca. Usar a razão é estabelecer com ela uma parceria para tornar o coração mais alegre e satisfeito, é conseguir dar um sentido maior para a vida com todas as suas dificuldades.
Quem encontra um sentido maior para as coisas é mais feliz, sorri mais, pula da cama de manhã cedo com mais vontade e não se parece com um simples tubo oco por onde as coisas somente passam e não modificam o ser.

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