terça-feira, 20 de agosto de 2024

 O MELHOR PORQUE EU MEREÇO

            Ontem pela manhã, logo após ter acordado, como sempre faço, fui à cozinha preparar meu café com leite de todo dia. Mas ao adoçá-lo, sem querer pinguei umas gotinhas a mais de adoçante e o negócio ficou enjoado, doce demais. Fui logo construindo discursos internos como desculpa para me forçar a tomá-lo, afinal, custou dinheiro, o desperdício não combina comigo e eu não iria morrer daquilo.

           Ainda bem que me veio o estalo: por que não fazer outro café com menos adoçante e daí tomá-lo com prazer? Eu teria mesmo que pagar o preço de me sentir enjoada por causa do meu erro? Despejei a xícara inteira na pia. Fiz um mais gostoso, porque me dei conta de que eu não precisava me punir nem praticar a economia em casa tão ao pé da letra e contra mim.

            Este episódio é para lá de banal, mas talvez seja a raiz de um comportamento que, levado a outros contextos mais importantes da vida, demonstra um grau de bondade para conosco. Se é para comer, que seja uma comida gostosa, caprichada, bem temperada. Se é para se vestir, que seja com uma roupa limpa, confortável e bonita. Se é para tomar banho, que seja bem quentinho e com sabonete cheiroso. Se é para dormir, que seja numa cama macia. Se é para passar o tempo em frente à televisão, que seja para assistir a algo que acrescente. Merecemos o melhor, sempre. Vale para tudo.

              Se é para nos relacionarmos, que seja com pessoas amáveis, que nos tratem bem, com respeito, educação e amor. Não há razão para autoimposições desconfortáveis sem sentido à custa do próprio bem estar. Provei, não gostei, lixo. Seja o que for. Não fomos feitos para aturar coisas ruins que nos desagradam, que invalidam o nosso poder de dizer não, apenas por razões, muitas vezes, desconhecidas ou porque imaginamos que não somos merecedores de que é bom. 

                Conversa chata, desculpe, preciso ir embora. Convite enfadonho, obrigada, não vou. Conselho que não pedi, agradeço, mas recuso. Não é crime sair do cinema no meio daquele filme que não diz nada e também não é pecado alertar o garçom de que o ponto da carne não está como foi pedido. Se somos o centro de alguma coisa, é do nosso próprio mundo e neste lugar há de imperar a benevolência para conosco. Não são nada razoáveis os prejuízos autoimpostos em nome do que for, seja do costume ou do famigerado receio de desagradar.

                Se a gente se esforça em fazer o bem para tantas pessoas que amamos, não há sentido em não fazer o mesmo por nós. Também merecemos amor, carinho e respeito de nós próprios.     

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