terça-feira, 28 de junho de 2016
sábado, 25 de junho de 2016
segunda-feira, 20 de junho de 2016
Sinceramente, não dá pra imaginar que alguém possa agradecer por uma batidinha na traseira do carro. O episódio, na verdade, só serve pra chatear. No mínimo, leva-se um susto com o tranco nas costas. Também te obriga a descer do veículo para conferir o estrago e olhar feio pro distraído, chamando-o à responsabilidade. Ora bolas, como não perceber que o carro está deslizando e vai bater no da frente? Presta atenção, não é?
domingo, 5 de junho de 2016
Veio depois a fase
adulta, querendo o jovem Brasil governar-se. Queria tomar decisões por
conta própria. Foi preciso, então, opor-se à monarquia de Portugal, ao mando
alheio. Lutou muito e marcou sua história de modo definitivo proclamando a
república no ano de 1889, ficando, de certa forma, livre para decidir
sobre seu próprio destino. Historicamente, parecem ter sido bem marcados os
episódios do descobrimento, da independência e da proclamação da república por
estas bandas.
Não há algo de
similar à trajetória humana? Ou seja, não parece possível estabelecer
um paralelo entre tais acontecimentos históricos e o crescimento das
pessoas? Afinal, desde que nascemos também vamos aprendendo o idioma de
nossos pais, assim como, em geral, somos catequizados para seguir alguma
religião. Igualmente, vamos para a escola e aprendemos nossa cultura até
que chega um momento em que queremos a nossa própria independência e
autogoverno. Pois, quem nunca, em casa mesmo, lutou por liberdade, ou buscou
estabelecer sua república individual? Quem nunca se trancou no próprio quarto
para se sentir dono do seu espaço? Quem nunca afrontou os pais para que
parassem de proteger seus filhos quando se julgava isso desnecessário?
Quase tudo
igual entre nós e o Brasil, a não ser por uma significativa inversão no reino
pessoal: é possível que sequer tenhamos vivenciado até o momento o nosso
próprio descobrimento, ainda que já dado o grito do Ipiranga e proclamada
a república individual. Pois não basta ser independente e governar-se. É
preciso descobrir-se primeiro.
Quiçá o próprio
Brasil não tenha se descoberto, ainda, em suas potencialidades e riquezas.
sexta-feira, 3 de junho de 2016
A sala de espera no setor de cardiologia daquele hospital encontrava-se cheia de pais e mães com seus pequenos de todas as idades esperando atendimento médico. Eu, na mesma situação, e felizmente apenas para um exame de rotina em minha filha, aproveitava para observar os comportamentos de todos, algo que normalmente me desafia para, pretensiosamente, entender um pouco do ser humano.
Em meio àquele cenário, algo de especial me chama a atenção mais do que qualquer outra coisa: entre os presentes, encontrava-se uma simplória mãe amamentando seu bebê de quatro ou cinco meses recém-operado do coração. Fiquei comovida! Encontrava-se ela com um fino aventalzinho de trabalho e chinelo de dedo, apesar do intenso frio de julho. Por certo, pensei, estava aproveitando o horário de intervalo do seu trabalho para a consulta da criança. A cena, um tanto comum em qualquer estabelecimento de saúde, tinha algo de único e espetacular, pois aquela criatura, transbordante de ternura, no silêncio do recinto, não parava de falar um só segundo e de modo bastante afetuoso com seu pequeno. Seu nome era Miguel, o que perguntei como forma de me aproximar. O garotinho, absorvendo o amor materno, comportava-se como um anjinho, olhando diretamente nos olhos daquela mulher que lhe daria qualquer coisa para vê-lo bem. Bebia mais do que o leite da mãe, é claro! Era nutrido de um amor único, inigualável.
Aquela cena me preencheu e afetou-me de tal maneira que, graças a Deus, minha filha foi logo chamada pela secretária do consultório, pois eu já não conseguia mais disfarçar meus olhos encharcados de lágrima, tamanha a emoção em perceber aquela poderosa dinâmica em prol da vida. Concluí que além de sentir, a gente também consegue ver o amor em suas diversas manifestações.
|
A família resolveu reformar a casa. Pintura, assoalho, tapetes, mobília... quase tudo já vinha precisando ser modificado para que ficasse com cara de mais novo, além de outros consertos que se fizeram oportunos naquela ocasião. Não se havia contado, porém, com o caos, a poeira e o tumulto ocasionado pela recém formada multidão. Além dos usuais moradores, passaram a ocupar o mesmo espaço o pintor, o marceneiro, o encanador, o eletricista, a diarista. Foram algumas semanas de muita correria, sujeira e baderna. Tudo muito dramático para quem curte tudo em ordem, cheirosinho e aconchegante. Por todo lado se via e se sentia movimentação e barulho. De noite todos precisavam dormir empoleirados na sala. Foi preciso o milagre da multiplicação dos itens de limpeza e da resiliência. A situação se assemelhava a um acampamento sem regras, muito cansativo. Mas a perspectiva de um visual renovado era o que impulsionava o andamento da obra! Contudo, em meio a esse cenário caótico a vida não podia parar, sendo necessário cumprir os compromissos corriqueiros, como, por exemplo, ir ao supermercado, que nessa hora era visto como oportunidade de fuga. Foi numa dessas
escapadas, numa fria manhã de inverno com céu azul límpido, acompanhada da
saltitante caçula, à época com nove anos de idade, que ouço um grito entusiasmado me
acordando para uma outra realidade: - Mãeeeee...consegui fazer uma bola de
chiclete! Foi a primeira vez, lógico. Aquele estalido perfeito, após inúmeras
tentativas anteriores e frustradas trouxe incomparável felicidade àqueles
olhinhos brilhantes e escuros. Uma vitória, sem dúvida, para quem vinha há
tempos tentando conseguir essa façanha. Que privilégio o meu,
pensei, ser testemunha dessa ingênua conquista. Foi mais mágico pra mim do
que pra ela. A criança era só alegria naquele momento. Até a costumeira
vigilância a que se habitua um morador da cidade grande se enfraqueceu
repentinamente. Vamos ao óbvio nem sempre percebido: a
beleza da vida se oferece nos efêmeros instantes e nossos filhos são fonte
segura de encantamento. Num único segundo do meu dia tudo passou à categoria
do secundário. Cheguei até a esquecer do estresse que a baderna da minha casa
vinha me causando. Concluí que a verdadeira
reforma que se há de fazer é no olhar e no coração. E se me perguntarem do
que mais eu lembro em meio àquela confusão toda em minha casa, responderei,
com toda a certeza, que é muito mais importante fazer bola de chiclete do que
escolher a nova cor das paredes.
|


