domingo, 5 de junho de 2016

ZEN AOS TREZE ANOS


      Parece inapropriado atribuir a alguém com apenas treze anos de idade uma característica própria das pessoas que já deram muitos passos na caminhada da vida: a tranquilidade. 
     Em certa ocasião, final de ano, minha família e eu nos encontrávamos na praia, sentados num banco do calçadão em frente ao mar. Eu, com minha eletricidade habitual, não absorvia as nuances daquele momento, pois estava envolta nos planos para o futuro próximo. Parece que os dezembros nos obrigam sempre a listar resoluções de ano novo. 
    Pensava nos pratos para a ceia de Natal, nos presentes para comprar, nos detalhes necessários para que tudo ficasse como planejado, também nos cinco quilos que eu queria perder depois das festas e nos propósitos que eu estabelecia para economizar mais no ano seguinte. Meu marido, por sua vez, também não assimilava a magia do instante, importando-se mais em garantir nossa segurança e bem-estar, ficando atento para evitar qualquer incidente que pudesse nos atingir. A caçula, com sua inquietação típica dos dez anos de idade, perguntava de tudo: – Como é que entra água dentro do coco? Como se formam as ondas do mar? Por que o céu é azul? E assim por diante, com outras curiosidades do gênero. A primogênita de treze anos, entrando na adolescência... bem, é sobre ela que vou divagar a partir de agora.
      Mantinha-se com as pernas e braços cruzados e olhar firme para o oceano. Nenhuma palavra ou movimento do seu corpo, a não ser o piscar dos seus olhos verdes. Acho que nem Buda conseguiria a proeza de manter-se como estátua por tanto tempo. Minha menina parecia ter sofrido o efeito da tecla pause do controle remoto. Sua quietude chamou-me tanta atenção que passei a observá-la, chegando até a me preocupar se estava triste com algum acontecimento. Mas não, estava apenas quieta, desfrutando de sua calmaria interior. 
      Fiquei pensando como é que uma adolescente, tão previsivelmente inquieta por causa das transformações da idade, era capaz de entregar-se à paz e ao silêncio?  Nada lhe desviava o olhar, mantendo o foco de sua atenção no horizonte azul do mar. Fiquei tentando entender aquele estranho sossego, afinal, a menina nem havia experimentado os inevitáveis reveses da vida! Quanta calma naquele coração pueril! Não consegui decifrar o motivo de tamanha placidez. 
      Há tempos eu vinha tentando dedicar-me a cinco minutos diários de meditação, músicas new age, controle da respiração, mas foi naquele momento que me convenci de que minha filha poderia me ensinar sobre como exercitar a serenidade. 
       Saindo dali, fui acrescentar mais um item em minha lista de intenções para o ano vindouro: ficar alerta para perceber que não é, necessariamente, a idade que conta para obter lições importantes na vida. Mais tarde agradeci minha filha pelo que aprendi com ela sem ter ouvido uma única palavra.

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