sexta-feira, 3 de junho de 2016

MIGUEL


       A sala de espera no setor de cardiologia daquele hospital encontrava-se cheia de pais e mães com seus pequenos de todas as idades esperando atendimento médico. Eu, na mesma situação, e felizmente apenas para um exame de rotina em minha filha, aproveitava para observar os comportamentos de todos, algo que normalmente me desafia para, pretensiosamente, entender um pouco do ser humano. 

     Em meio àquele cenário, algo de especial me chama a atenção mais do que qualquer outra coisa: entre os presentes, encontrava-se uma simplória mãe amamentando seu bebê de quatro ou cinco meses recém-operado do coração. Fiquei comovida! Encontrava-se ela com um fino aventalzinho de trabalho e chinelo de dedo, apesar do intenso frio de julho. Por certo, pensei, estava aproveitando o horário de intervalo do seu trabalho para a consulta da criança. A cena, um tanto comum em qualquer estabelecimento de saúde, tinha algo de único e espetacular, pois aquela criatura, transbordante de ternura, no silêncio do recinto, não parava de falar um só segundo e de modo bastante afetuoso com seu pequeno. Seu nome era Miguel, o que perguntei como forma de me aproximar. O garotinho, absorvendo o amor materno, comportava-se como um anjinho, olhando diretamente nos olhos daquela mulher que lhe daria qualquer coisa para vê-lo bem. Bebia mais do que o leite da mãe, é claro! Era nutrido de um amor único, inigualável. 

     Aquela cena me preencheu e afetou-me de tal maneira que, graças a Deus, minha filha foi logo chamada pela secretária do consultório, pois eu já não conseguia mais disfarçar meus olhos encharcados de lágrima, tamanha a emoção em perceber aquela poderosa dinâmica em prol da vida. Concluí que além de sentir, a gente também consegue ver o amor em suas diversas manifestações.

        

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