PERDER DÓI
Estamos em dezembro de 2022, época em que se desenrola a Copa do Mundo do Catar. Há alguns dias a seleção brasileira foi eliminada nas oitavas de final pela Croácia, nos pênaltis. Doeu muito em mim, assim como em diversas pessoas com quem conversei depois, e a primeira coisa que me veio à cabeça foi sobre o porquê de eu estar sentido aquilo, já que não sou diretamente ligada ao futebol ou a campeonatos e esportes em geral. A resposta mais óbvia é a de que perder, simplesmente, dói.
Ninguém vem para esse mundo programado para não sentir a dor das perdas, sejam elas reais ou até mesmo imaginárias, de várias ordens e magnitudes. São inevitáveis as perdas da vida, não havendo como escapar de senti-las, e doem porque nos obrigam à elaboração do desconforto que nos causam e sobre o qual dificilmente temos o controle. São lutos que experimentamos, em algum grau no espectro que cada ser humano guarda dentro de si.
Quaisquer perdas doem. Dói perder alguém que se ama. Dói perder um amor. Dói perder a saúde, uma amizade. Dói perder uma ilusão, uma disputa e até um objeto qualquer. Dói perder as estribeiras, o emprego, a razão, a viagem, o vigor. Dói perder tempo e também dinheiro. Dói perder uma oportunidade, a inocência, a juventude, um animal de estimação. Dói perder um ideal, um sonho. A lista é infinita. Perder dói porque tudo é impregnado de algum grau de expectativa e investimento emocional, do contrário, não doeria.
É até possível dizer que o sofrimento humano não é pela simples perda, mas pela frustração por causa da energia despendida àquilo que se perde e do rearranjo obrigatório que isso exige, ou seja, a transformação que vem de carona nesse processo. Perder exige adaptação ao novo status quo desagradável que se impõe à frente, e adaptação exige gasto energético. Perda, frustração, transformação, assimilação...tudo junto e misturado na fila das demandas pessoais para uma ressignificação menos dolorida.
E tem ainda aquela categoria de perda que também dói muito, que é o abrir mão consciente daquilo que é bom, como aposta para algo melhor, tal como voos livres frente ao desconhecido, como apostas em caminhos diferentes. Esses são os casos das perdas necessárias, o que também pode significar um doloroso sentimento. A vida é assim mesmo, perdas variadas e esperança de ganhos melhores.

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