segunda-feira, 10 de janeiro de 2022

A NOVIDADE DE ENVELHECER

   

        Venho refletindo há algum tempo sobre as novidades da vida, os acontecimentos inesperados, as notícias não previstas que chegam de repente sem aviso ou preparação, sobre aquilo que nos pega desprevenidos. Mas tem coisas que, ainda que saibamos que irão acontecer, chegam como susto, pegando-nos desprevenidos do mesmo jeito e a ponto de nos obrigar a adaptações.

    Envelhecer, por exemplo, já é anunciado desde o dia em que nascemos, mas quando chega de verdade, parece tudo uma grande notícia. Talvez por isso é que entrar na meia idade dá aquela estremecida e faz parecer tudo como muito inédito. Ao menos pra mim, tudo vem parecendo um grande acontecimento e meu combo mente-corpo vem gritando a necessidade de falar a respeito.

     A ideia da passagem do tempo, na realidade, sempre fez parte das minhas elucubrações, só que na forma de simulações em torno do que eu achava ser um futuro longínquo que demoraria uma eternidade pra chegar. Caramba, eu estou ficando velha!

        É tudo muito novo pra mim que, por ser a filha caçula da família, sempre me senti no playground das coisas lá em casa, a última a começar a namorar, a trabalhar, a casar, a ter filhos. Pela lógica, então, meu encontro com o famoso balanço geral da vida também demoraria muito ainda, apesar de eu ter sido constantemente avisada pela minha mãe, que, estalando os dedos, costumeiramente sentenciava ... "quando você abre o olho, já está com cinquenta anos". Ela mal sabe o tamanho do eco que essa frase produzia em meus ouvidos. Aquilo parecia um exagero dela, mas o engraçado é que num dado momento, não mais que de repente, aqui cheguei eu, na casa dos cinquenta anos. Nossa...passou tudo muito rápido mesmo.

        Parece que de uma hora pra outra, passei a experimentar na própria pele, em sentido literal inclusive, tudo o que eu ouvi a vida toda a respeito de envelhecer. Levantar do sofá com rapidez trouxe tontura, a visão vem ficando mais embaçada e já não posso mais ceder a quaisquer gulodices. Pernas menos ligeiras, articulações disparando uma dorzinha aqui, outra ali e chazinho pra dormir também vêm fazendo parte do quadro. E tem as filhas, ainda, pra mostrar que minha função materna não é perene. Elas já saem para o mundo sozinhas como quem vai ali, só passar um fim de semana na praia e já voltam.

       A ficha vem despencando, e não apenas por causa dos cabelos brancos, das ruguinhas ou do colágeno em baixa, até porque, pra isso, há truques estéticos cada vez mais modernos, vitamina D em cápsula, suplementos disso e daquilo, mil disfarces e auxílios artificiais pra esticar a juventude. Difícil mesmo está sendo encarar a desconstrução dos castelos ou, em bom português, das ilusões. Estas vêm caindo pra mim feito bastão em jogo de boliche e mostrando que luto não é apenas sobre a morte de alguém que a gente ama.

        Enfim, quero dizer que, mesmo depois de ter ouvido tantos testemunhos e conselhos ao longo da vida a respeito de ficar mais velha, pra mim, a chegada do crepúsculo estava longe de ser algo palpável. Perceber que já não se está mais no alvorecer da vida vem sendo "a" novidade.

        Tem coisas que vemos e ouvimos inúmeras vezes, mas quando acontece com a gente adquire cor de originalidade. Quem sabe este seja o grande truque do tempo, justamente, fazer com que tudo sempre pareça novo para gente nunca sentir que está no rumo da meia noite.

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