Ninguém costuma ser visitado por pensamentos profundos quando em euforia, diversão e felicidade. Talvez, porque esses estados pereçam ser tão passageiros e daí tudo se ajeita para que se viva intensamente o momento. De minha parte, deixo para outro momento a tarefa de me concentrar em temas mais difíceis, pois é sempre no escuro da tristeza que minha mente trabalha. É quando avalio situações, medito, tento ressignificar fatos, enfim, é quando desço no poço da minha cabeça. Meu espírito precisa estar mais para a sombra do que para a luz para que eu possa sentir e perceber o que está abaixo da superfície.
Há poucos dias eu estava de recesso do trabalho, na praia, casa cheia, família amontoada, sem qualquer compromisso com a ordem. Vieram quase todos. Rotina zero, excessos permitidos e mais a vontade de desfrutar de companhias tão amadas. Piadas, risos, barulhos, histórias, tudo regado a bebida e comida boa, sem tempo para me aquietar num canto e, simplesmente, pensar. Deixei rolar solto o riso e agendei pra mais tarde um momento isolada. Não há condição melhor para um encontro do que a solidão, o silêncio, e talvez uma chuvinha e um cafezinho recém passado.
E, como tudo é tão efêmero tal qual foram os fogos de artifício no réveillon, chegou aquele momento no início do novo ano em que todos precisaram ir embora de volta para suas casas para cumprir seus afazeres, viver suas vidas, retomar seus rituais. E, de um minuto para outro, cá fiquei eu, prestes a fazer o que de melhor eu consigo quando estou sozinha...pensando.
Então veio ela a galope...a tristeza, aproveitando-se! É assídua, não falha nunca esse meu estranho combustível. Estaria eu apenas sentindo saudade daquela algazarra toda? Ou talvez sentindo a reverberação das memórias afetivas passadas, tão concretamente presentes naquelas pessoas que mais amo nesta vida e com as quais pude conviver de perto por alguns dias no fim do ano que passou? Ou quem sabe apenas uma sobra de tempo que estava ali, escondida, fazendo-se de oportunidade para impor a quietude e atentar minhas ideias, cutucar meu coração. O fato é que me vi num dado instante em absoluto silêncio. Aquela chuvinha também deu as caras e fui então passar o cafezinho, cumprindo o script da coisa. Pronto! Estava montado o cenário, estava montada a cama para a melancolia se deitar, que, como âncora implacável, me sugou para um tempo ou um subsolo a ninguém acessível. Aquele lugar em que sofremos na carne o peso das lembranças e o receio dos finais.
Na realidade, até agradeço a esta força que, de certa maneira, dirige meu olhar para o que tem importância real na vida. Porque, sinceramente, não nasci pra ficar no raso, não consigo ter olhar rápido para as coisas, a vida, as pessoas, o amor, ainda que isso me consuma de algum jeito. Sair saltitando por aí o tempo inteiro sem, de vez em quando, avaliar questões importantes da minha vida é coisa que ninguém nunca verá. Desse jeito, que bom que a tristeza, apesar da sua má fama, consegue dar sua contribuição, me guiando para um mergulho profundo e solitário e me impulsionando de volta para cima, de onde eu emerjo abastecida de novos olhares, sentimentos, promessas, claridade, planos, vida, alegria. Sim, aquela tristeza passou, sempre passa, e foi como a noite que depois vira dia. Dá pra dizer que o saldo foi positivo, pois me senti mais um pouquinho crescida, evoluída, transformada.
Já disse o poeta que "...tristeza não tem fim, felicidade sim". A bem da verdade, a tristeza também tem seu fim, porque ela vive de mãos dadas com a felicidade, é o contraponto desta. Então, que seja muito bem vinda essa força, espécie de farol que nos clarifica a visão e desobstrui os caminhos para o acesso às alegrias.
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