FEBRE E AMOR
Acabei escutando dias atrás aquela música da cantora Marina Lima, lançada nos anos oitenta...Charme do Mundo. Por ter uma melodia pra lá de gostosa, eu nunca havia prestado atenção na letra, mas desta vez resolvi fixar minha atenção nos seus versos. Hoje em dia, mais madura e sensível procuro ver mais poesia e mensagem em tudo que passa por mim e já na primeira estrofe me reconheci: "Eu tenho febre, eu sei / É um fogo leve / Que eu peguei / Do mar ou de amar, não sei / Mas deve ser da idade".
Então, Marina Lima, somos duas! Eu também tenho essa febre, aliás, um baita calorão interno no meu caso, que me torna intensa no corpo e na alma, que me incendeia, me explode, me eleva pra cima como um balão. A verdade é que nada é morno comigo, feliz ou infelizmente. E como diz a música, eu também devo ter pego essa febre do mar ou de amar, só não sei de qual dos dois.
Analisando esse dilema poético, comecei pensando que da natureza eu adoro tudo, mas o mar é o meu favorito, porque é possível compará-lo ao amor, pela sua imensidão, seus mistérios, sua força, seu movimento, sua transitoriedade, sua ambivalência. É de onde nasce a vida e também de onde saem monstros. É do mar que eu retiro a energia que levo pra casa quando a ebulição atinge níveis altos. Super encaixa comigo esse jeito de pensar. Por outro lado, é possível também que essa febre tenha vindo de amar, como verbo, ação, pois uma pessoa do meu naipe jamais teria se transformado nessa panela de pressão, amando e tendo amado do modo raso, pequeno ou fraco. Tudo sempre foi muito agudo comigo nesse terreno.
Seja de onde for, do mar ou de amar, o que também posso afirmar tal como a cantora, é que esse calor aqui dentro só pode ser da idade, tendo ligação direta com os anos que já se passaram. Tem razão Marina Lima. Eu concordo contigo que é abençoada a passagem do tempo, porque funciona como um foguinho que vai nos esquentando, nos apurando, nos deixando no ponto. Se for possível a comparação, aprendi com minha mãe que comida boa se faz em fogo baixo, porque pega mais o tempero, não fica aguada, é mais gostosa, atiça a fome, satisfaz mais. E assim, penso que encontrei a explicação: esse meu fogo leve, que eu também peguei do mar ou de amar, deve ser da idade. E precisei ficar mais velha pra conseguir ver e sentir que essa febre consiste no amor que há em absolutamente tudo.
Mais pro final da música, Marina canta É febre, amor / E eu quero mais / Hum, tudo o que eu quero, sério / É todo esse mistério. Sim, é mesmo do amor que ela fala, esse grande mistério que nos aquece, nos propulsiona pra frente, nos erotiza...não tenho dúvidas de que eu também o quero mais, cada vez mais.
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