quarta-feira, 26 de janeiro de 2022

 

OU-OU


        Em nossa linguagem existem várias expressões que usamos para indicar situações diametralmente opostas e, penso eu, carregadas de uma justa e embutida crítica à visão limitada de que, frente aos acontecimentos, só existem duas possibilidades diferentes e excludentes entre si. É a lógica ou-ou, que considera somente os extremos, também conhecida como somente uma coisa ou outra, com desprezo das infinitas possibilidades que o mundo e a vida oferecem. Normalmente, isso está relacionado com a dificuldade de se saber, ou aceitar, que sempre existe o meio-termo na hora de tomar decisões. 

        Falar que alguém é tudo ou nada, que é oito ou oitenta, que vai do céu ao inferno é o mesmo que apontar a sua limitação para enxergar, unicamente, o bom ou ruim, a paz ou a guerra como possibilidades únicas frente à vida, sem levar em conta as nuances que há entre dois polos. São metáforas, claro, para identificar aquela pessoa que é radical e inflexível, que ama ou odeia, que vai ou fica, que cala ou grita e que, perante os impasses, só avalia dois caminhos antagônicos, sem considerar outras posições dentro desse  espaço. Graças ao bom Deus isso já não faz mais parte da minha vida há algum tempo. Hoje consigo perceber que nenhum contexto é só paraíso ou só abismo, seja na natureza, no universo, na psique humana, na história do mundo, no amor, na saúde, na economia etc.

       Num universo em constante movimento pensar em apenas duas maneiras de se posicionar perante os fatos soa um tanto limitante. O bom ou mau, o agora ou nunca e outros inúmeros contrários não podem erradicar o mais ou menos nem o talvez. 

        Equilíbrio é a chave, porque acreditar que as coisas só podem se localizar no certo ou no errado, no preto ou no branco, é restringir-se demais. Sempre haverá tons de cinza em tudo. A própria matemática já revelou que há infinitos números entre o zero e o um, assim como a física quântica mostrou que tudo o que vemos é absolutamente momentâneo. Os filósofos gregos, e Aristóteles, em especial, falavam que a virtude está no meio, dizendo que os extremos são os vícios - in medio stat virtus

        Assim, nem lá nem cá, nem tanto ao mar nem tanto à terra. Não sejamos como o duro e inflexível tronco de carvalho que se quebra devido ao peso da neve que nele se acumula. Melhor ser como o bambu que verga para baixo deixando a neve cair, recuperando o seu estado original.

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